segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Iminência

Aulas acabando, aquele clima de fim de ano se instalando. Minhas notas iam na mesma, talvez passasse direto, talvez não; mas tudo se resolveria nas provas finais e as férias seriam longas e proveitosas mais uma vez... Solteiro, fazia um tempo que eu não beijava, mas estava apaixonado, isso não me atormentava. O livro que estou escrevendo não havia saído da primeira página, mas estava com muitas idéias, nunca estive com tantas idéias. Tudo aparentava estar em seu lugar. Exceto por uma coisa. Não sei por que vinha sentindo que algo de muito importante iria acontecer em minha vida. O problema é que eu não fazia a mínima idéia do que podia ser. Essa iminência era a minha maior preocupação. Passar ou não de ano, tirar ou não férias longas, beijar ou não beijar, eram coisas secundárias, terciárias até...

Acordei, mais uma vez atrasado para escola. Provas finais. Arrumei-me correndo, peguei a bicicleta e sai do prédio. Gostava de ir pela Rua Nascimento Silva e seguir na contramão às margens da pista. Fui. Chegando lá lembrei que só iria encontrar vagabundos como eu, que não estudaram o ano inteiro e ficam desesperados quando cai a ficha de que podem reprovar de ano. Mas tudo bem, eu não estava preocupado com isso, algo maior aconteceria a qualquer momento e era isso que importava.

Minha intuição estava me deixando maluco. Entrei na escola, falei com os inspetores e fui até a minha sala. Abri a porta; fui olhado como lixo pelo professor - "o cara fica de prova final e ainda me chega atrasado"... - procurei um lugar ao sol e me sentei. Impressionante como alguns não dão a mínima para o conhecimento. Mas quem sou eu para falar, estava ali igual a eles, no mesmo barco.

Eu andava me sentindo muito estranho. Não sabia se estava feliz, triste, com frio, calor, bonito, feio... não sabia. Minha amiga entrou na sala. Ufa! Sentou-se ao meu lado, conversamos bem baixinho, mas não naquele tom de voz sequelado querendo dizer que estava falando baixo. Apenas estávamos conversando ao léu da aula... "Nando, to sentindo algo estranho hoje, não sei o que é. Parece que vai acontecer alguma coisa, mas não sei o que..", fazendo cara de pensativa olhando para o nada. Na hora em que falou quase cai da cadeira para falar que sentia o mesmo.

Acabou a aula. Não aprendemos nada. Apenas discutimos quem tinha passado direto, quem tinha ficado com quem no fim de semana e, claro, sobre a iminência maldita dos dois... Quis conversar com ela na saída, mas ela teve que sair correndo. Não sei onde ela arruma tanta coisa pra fazer, anda sempre com olhares furtivos preocupada com alguma coisa.

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