domingo, 28 de fevereiro de 2010

A rua



Do quinto andar eu olho a rua. Faço uma lista das coisas na minha cabeça: carros rápidos, lentos, altos, velhos; árvores entre as cidades, apredendo a conviver com a urbe; transeuntes apressados, enamorados, contempladores... Eu olho os prédios, imagino o que cada pessoa deve estar fazendo dentro de seus lares. Imagino também o que uma celebridade internacional deve estar fazendo naquele momento - quem não pensa nessas besteiras?; é bom sonhar, viver e ver poesia em coisas simples.
É do quinto andar que eu penso isso. Eu nunca encontro outros curiosos olhando em volta, mas com certeza não devo ser o único...

Domingo

Entre um sim e o não
minha fuga foi escape
pra longe da tua emoção
exagerada, um desgaste

Entre o vem e a solidão
prefiro a índole, meu porto
que não vai se abalar
por algo inconstante, torto

Entre mim e a visão
o primeiro, eu
a segunda, meu
abrir mão por amor
não.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Em mim



Estou caindo. Ruídos, suposições do que possa ser. Mas não sei. Não tenho medo; eu quero mesmo me aventurar. Parece um poço, por onde eu vou caindo, e ao meu lado pensamentos, desiluões, tristezas, paixões, momentos, lembranças; inertes em sua queda.

Até agora não vi fundo. Também não olhei para baixo. Começou a chover; fez sol. De repente imagens e sons de um discurso. Primeira dama, pessoas importantes. Blecaute. Sumiram.
Estou caindo devaneiamente. Tento mas não quero me agarrar a algo. Estou sozinho, mas sei que a vida é mesmo assim. Tenho noção de que a queda faz parte e sinto que é passageira. Por isso observo tudo, enquanto caio.
Deixo os sons entrarem por meus ouvidos. Vivo, calo e penso. Reflito: agora sou eu e eu! Bato no peito. Chamo a responsabilidade, é a hora!
Os sinos batem. O tapete se estende. Os guardas esperam a entrada: é a minha vez!
Um brilho forte o suficiente para cegar os fracos reflete em meus olhos. Mas eu quero, eu quero a luz, o desconhecido atrás da capa. Eu quero entrar pra ver de onde vem a luz. Eu entrei. Entrei dentro de mim e agora somos eu e eu.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Blecaute






Blecaute. Acabou-se... Foi-se tudo! As pessoas, o cotidiano, o tráfico, as guerras, a televisão, os shows de rock, a mãe, o pai, Acabou-se! O que restou foram apenas os animais, 4 humanos, a natureza, e o que já havia sido construído pelos seres humanos até ali.

Demorou a cair a ficha de Martina, Marcos e Rindu e com certeza da velha que apareceu apenas 2 vezes e sumiu. Ao ver pessoas duras, estáticas, sem respirar, apenas ali de “corpo” presente, como aceitar a nova realidade dali em diante? Pessoas duras, sem sentimento, pausadas, como se os três estivessem numa velocidade superior a da luz, enquanto os outros não, normais em sua inércia cotidiana.

Três. Por que eles? Por que aquilo? Cadê Deus? Apenas muita angústia e o mundo todo para eles, abandonado.




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Olá, Leitores!

O blog estava ausente neste período de carnaval. Mas volto a "confidenciar" para vocês a partir de hoje. Lembro também que a história está pausada por momento indeterminado
Obrigado a todos que leram os textos até aqui. Não se esqueçam de comentar! Beijos e abraços!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dias de queda


Na saída da escola era aquele caos. Muitas pessoas e ao mesmo tempo quase ninguém. Futilidade por toda parte. Avistei Rodrigo, mas já estava longe. Não encontrei mais ninguém. Fui embora, pra que ficar ali?

No caminho só devaneios. Tentei esquecer um pouco e até consegui, por um tempo.


Decidi ir à praia. Liguei para João. "Xuaum tá com a namorada, Fernando". Era engraçado, sempre que a mãe dele falava "Xuaum" eu tinha vontade de rir. Mas tudo bem, Xuaum não estava. Rodrigo estava no estágio, no jornal da escola. Marcelo, como sempre na Academia. Bruno dormindo, pra variar. Ah, quer saber? Vou sozinho.

Andando de bicicleta pela orla. Como é lindo o Rio de Janeiro. Mulheres a caminhar, jogando volei exibindo seus belos corpos, passeando com labradores peludos...


Pac! Tátápum!


Num átimo, me estabaquei no chão. Andar sem as mãos pedalando com força de chinelo não é uma boa idéia. A ponta do meu chinelo pegou no chão da ciclovia e eu perdi o controle e... Sentia uma dor horrível. Parecia que tinha levado uma surra numa roda de punk. Levantei com cuidado. Algumas pessoas olhando. Estonteado, ainda ouvi uma mulher dizer, caminhando: "Ta vendo", sem nem parar para ajudar. Às vezes o Rio de Janeiro me dava nojo. Em nível de extremos, sua sociedade, composta por cariocas esposas de ricaços e bandidinhos "amigos" de playboys para os quais vendem seus "produtos", era estarrecedora.


Será que era isso o acontecimento importante que ia aparecer na minha vida?..


Peguei minha bicicleta, montei e

"Volta o Cão Arrependido

Com suas orelhas tão fartas

Com seu osso roído

E com o rabo entre as patas", como diria o célebre Chaves...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Iminência

Aulas acabando, aquele clima de fim de ano se instalando. Minhas notas iam na mesma, talvez passasse direto, talvez não; mas tudo se resolveria nas provas finais e as férias seriam longas e proveitosas mais uma vez... Solteiro, fazia um tempo que eu não beijava, mas estava apaixonado, isso não me atormentava. O livro que estou escrevendo não havia saído da primeira página, mas estava com muitas idéias, nunca estive com tantas idéias. Tudo aparentava estar em seu lugar. Exceto por uma coisa. Não sei por que vinha sentindo que algo de muito importante iria acontecer em minha vida. O problema é que eu não fazia a mínima idéia do que podia ser. Essa iminência era a minha maior preocupação. Passar ou não de ano, tirar ou não férias longas, beijar ou não beijar, eram coisas secundárias, terciárias até...

Acordei, mais uma vez atrasado para escola. Provas finais. Arrumei-me correndo, peguei a bicicleta e sai do prédio. Gostava de ir pela Rua Nascimento Silva e seguir na contramão às margens da pista. Fui. Chegando lá lembrei que só iria encontrar vagabundos como eu, que não estudaram o ano inteiro e ficam desesperados quando cai a ficha de que podem reprovar de ano. Mas tudo bem, eu não estava preocupado com isso, algo maior aconteceria a qualquer momento e era isso que importava.

Minha intuição estava me deixando maluco. Entrei na escola, falei com os inspetores e fui até a minha sala. Abri a porta; fui olhado como lixo pelo professor - "o cara fica de prova final e ainda me chega atrasado"... - procurei um lugar ao sol e me sentei. Impressionante como alguns não dão a mínima para o conhecimento. Mas quem sou eu para falar, estava ali igual a eles, no mesmo barco.

Eu andava me sentindo muito estranho. Não sabia se estava feliz, triste, com frio, calor, bonito, feio... não sabia. Minha amiga entrou na sala. Ufa! Sentou-se ao meu lado, conversamos bem baixinho, mas não naquele tom de voz sequelado querendo dizer que estava falando baixo. Apenas estávamos conversando ao léu da aula... "Nando, to sentindo algo estranho hoje, não sei o que é. Parece que vai acontecer alguma coisa, mas não sei o que..", fazendo cara de pensativa olhando para o nada. Na hora em que falou quase cai da cadeira para falar que sentia o mesmo.

Acabou a aula. Não aprendemos nada. Apenas discutimos quem tinha passado direto, quem tinha ficado com quem no fim de semana e, claro, sobre a iminência maldita dos dois... Quis conversar com ela na saída, mas ela teve que sair correndo. Não sei onde ela arruma tanta coisa pra fazer, anda sempre com olhares furtivos preocupada com alguma coisa.