terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conversei com a Natureza

Ontem, conversei com a natureza
e ela me disse - Com certeza! Ta faltando alguma coisa
Sei não, mas quando a folha caiu no chão
eu já lembrei do rosto dela,
parece até novela...
Mas Mãe, me diz!
Por que com ela me sinto aprendiz?
Acaso perfeito
deslizou em meu peito
como que devagar..
Que tal meu bem me quer?!
Mas vale como der
Insista na carência
na doce adolescencia
e eu lhe direi nasceu
Nasceu o som do povo
a flor da paz

Choveu? Não sei...
Disseram por ai que sim,
mas ela não ta aqui
para dizer
sim.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A Rotativa Parou! Os Últimos Dias Da Última Hora de Samuel Wainer

“Uma vitória do progresso”, título do derradeiro artigo de S. W. para a Folha, que versava sobre as conquistas dos operários liderados por Lech Walesa na Polônia.



Livro de Benicio Medeiros, publicado em 2009, A Rotativa Parou!, 215 páginas, Civilização Brasileira, conta os bastidores da redação de um jornal que ficou para a história da imprensa brasileira. E mais, informa nas entrelinhas da narração um pouco da situação política, econômica e social do país na época em que Ultima Hora permaneceu sob o comando de seu criador.


Cheguei a esse livro por curiosidade em saber quais obras estavam concorrendo a prêmios de jornalismo, como o Esso e o Jabuti. Ao pesquisar na internet, li o título citado acima e me interessei mais ainda ao ver a capa. Até então nem imaginava da existência desse jornal. Já tinha lido em vários lugares o nome Samuel Wainer, mas não sabia quem era e o que fazia. Pois bem, resolvi comprar o livro.


A Rotativa Parou! é, nas palavras do autor, um livro de lembranças, com poucas entrevistas e uma certa pesquisa em torno do contexto do jornal. Portanto, é caracterizado como livro-reportagem. Uma curiosidade explanada pelo autor:  inicialmente era para ser um artigo, que cresceu, foi sendo separado por capítulos e acabou se transformando nesta obra.
 
Benicio trabalhou como repórter por um curto período na UH. Durante esse tempo, cobriu “abobrinhas” pelas ruas do Rio de Janeiro. Mas também fez entrevistas com personalidades importantes, como Di Cavalcanti. Em 70, época em que sequestros de diplomatas por grupos contra o regime era uma das formas de protesto, chegou a fazer plantão em frente a embaixada da Alemanha e Suiça junto a varios outros jornalistas. Sem muito êxito, pois as informações oficiais eram escassas nessa época, há seis anos instalada a ditadura.


É interessante a forma como descreve o ambiente da redação do UH. Para nós, estudantes de jornalismo, a realidade de trabalhar em uma redação parece algo distante. Mas ele consegue descrever um pouco do que é, pelo menos em sua época, o espírito de ir atrás das fontes e depois sentar para escrever.


Benicio era um repórter jovem que via ao seu lado grandes nomes do jornalismo, como Moacir Werneck de Castro, Nelson Rodrigues e João Ribeiro. O autor conta como era trabalhar com Samuel Wainer. “Talvez a maior diferença entre UH e os concorrentes é que esses não contavam com o carisma, o dinamismo e a ousadia de Samuel Wainer. Isso não podia deixar de se refletir no seu jornal e contribuir para o extraordinário sucesso da UH nos primeiros tempos.” Realidade bem diferente dos veículos comandados por empresários que só vêem o jornal como barganha. Medeiros e muitos outros que trabalharam com Wainer acreditam que esse carinho que o dono tinha para com o jornal se devia as suas raízes e claro, ao seu sonho. Wainer, antes de empresário, foi repórter, inclusive trabalhou para Assis Châteaubriant, em “O Jornal”. Muitos questionaram na época como ele teria levantado fundos para erguer a UH. Um só acontecimento talvez explique.


Samuel, em março de 1949, como repórter do “O Jornal”, foi ao interior do Rio Grande do Sul, numa fazenda em São Borja, achar Getúlio Vargas para realizar uma de suas mais marcantes reportagens. Retornou com a matéria, dando o título “EU VOLTAREI COMO UM LIDER DE MASSAS”. Getúlio voltou, em 1951, dessa vez eleito pela via democrática e então já tratava Samuel como “Profeta”. Muitos consideram, inclusive um texto que li no site arquivo público de São Paulo, que o Ultima Hora foi idealização de Vargas. De fato, indícios apontam tal afirmativa. A UH defendeu o governo getulista durante todo o seu mandato (1951-54). Por conta disso, enfrentou uma série de campanhas que ameaçavam a sua própria existência.


Assuntos polêmicos a parte, a importância do jornal para a imprensa brasileira está relacionada à sua diagramação inovadora; a uma linguagem que se aproximava ao popular, sem apelar ao sensacionalismo; aos intelectuais que passaram pela redação; à sua personalidade forte; tudo isso fruto de um sonho de um jornalista que usou de todos os seus esforços para fazer o seu jornal entrar para história da imprensa brasileira.

 
A UH sobreviveu durante 20 anos, de 1951 a 1971, quando passou de mão em mão até fechar as portas com uma dívida de 450 milhões de cruzeiros em 1991. “A UH que valeu a pena terminara há muito tempo, exatamente no dia em que Samuel Wainer e seu jornal deixaram de compartilhar os seus destinos.”, desabafa Benicio Medeiros, autor dessa obra que lhe valeu o quarto lugar no 52º prêmio Jabuti.

“Em 1971, mesmo ano que vendeu a UH, Samuel tornou-se empregado do antigo concorrente Adolpho Bloch, comandando um semanário de pouca duração, o Domingo Ilustrado (...) Depois dessa curta experiência, como qualquer outro jornalista brasileiro em busca de melhores oportunidades, seguiu para São Paulo, assumindo inicialmente –ironia do destino – o cargo de redator-chefe da última Hora paulista, que ele próprio fundou e que no tempo de exílio vendera ao grupo Folha.”


Samuel morreu em 2 de setembro de 1980, aos 70 anos. Quem quiser saber mais sobre a sua vida, Minha Razão de viver, eds. Augusto Nunes & Pinky Wainer, Planeta, 2005, é uma autobiografia editada postumamente por sua filha, a artista plástica Débora ("Pinky") Wainer.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Enquanto a festa....

Estávamos numa festa em uma casa onde a maioria das pessoas vestiam trajes com cores claras. Era uma festa de confraternização com o pessoal do trabalho. Eu devia ser um dos mais novos, apenas com 22 anos, enquanto outros tinham 20, 30 anos só de banco. O bom dessas festas é que você olha para os colegas de profissão com um olhar diferente, pois ninguém se comporta da mesma maneira como se comporta em outros ambientes. O chato é que sempre há aquelas pessoas chatas, dessas que vivem para o trabalho. Essas não mudam, são as mesmas pessoas tanto dentro como fora do ambiente profissional.

Enquanto conversava com alguns colegas, reparei em Juliana, uma loira alta, com andar marcante e um olhar carinhoso, de mulher. Ela estava linda. Com um vestido bege claro, conversava e ria, enquanto os homens babavam a cada palavrinha dita por ela.

Juliana deve ter perto de seus vinte e nove anos. É uma mulher muito atraente. Sempre a olhei no trabalho como uma mulher segura de si, que toma suas decisões e caso haja alguma dúvida, consultaria a mãe, companheira de vida.

Na festa, eu a percebia como no trabalho. Eu era só mais um que perambulava pelo décimo oitavo, mesmo andar de trabalho dela. Só que notei algo diferente em seu olhar esta tarde. Ela voltou o rosto para mim e apertou suavemente os olhos, como um discreto convite sedutor. Fiquei sem saber o que fazer e me virei rapidamente. Fingi que não vi e ri, falando coisas sem sentido para os colegas, tentando disfarçar minha timidez.

Enquanto o povo conversava, ficava me perguntando se aquele olhar tinha sido realmente para mim. Tive que tirar essa dúvida. Olhei para ela disfarçadamente, mas não retribuiu. Cheguei a desconfiar que foi charme, que no fundo me olhava de canto de olho, essas coisas que dizem que só as mulheres conseguem fazer. Mas não insisti, resignei-me que foi apenas impressão e voltei à conversa.

O papo estava chato. Pessoal falando de bolsa de valores, investimentos, fatos sobre economia; eu já não aguentava mais ficar ali. Trabalhava em um banco, e quando tinha uma festa para o pessoal se distrair um pouco, esse mesmo pessoal parecia ficar mais bitolado em questões financeiras do que em qualquer outro lugar. Sai dali, pra que ficar?

Fui dar uma volta na mesa que abrigava alguns salgados, doces, pães. Estava com uma cara ótima. Os coquetéis que o banco oferecia eram os preferidos da classe alta. Só cardápio chique. No entanto, o sabor não acompanhava essa chiqueza toda. Preferia uma coxinha, pastelzinho, do que esses salgados com nomes franceses que tinham gosto de nada. Me deu saudade das festas humildes.

Resolvi pegar só um suco com um garçom que passava.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pré-conceito é de homem pré-histórico

Falar, defender pontos de vista, criticar, tentar se inteirar, mostrar que sabe, desejar acima de tudo e todos. Essas situações muitas vezes se põem à frente da humildade. Eu sei que é difícil tê-la, mas mais difícil ainda é pensar que existem seres que não almejam esse dom. Sim, eu considero isso como um dom, pois das mais de seis bilhões de pessoas no mundo, talvez apenas milhares tenham esse sentimento altruísta.

Às vezes eu tenho medo das primeiras impressões. Elas enganam cegamente, devido ser um olhar virgem do assunto que está se analisando. Para dar um exemplo, lembro do primeiro semestre do meu curso, em que fiz um trabalho em grupo com um cara chamado Paulo. Ele já tinha mais de trinta anos, apesar de não aparentar, e eu 19. Ao sair o resultado das primeiras atividades, me impressionei com a capacidade de escrita de Paulo. Ele não demonstrava que escrevia tão bem, que tinha ideias interessantes sobre diversos assuntos. Mas por que eu pensei isso? Talvez pelo seu estilo de se vestir, de se comunicar? Talvez. Mas na medida em que fui conhecendo esse homem, fui notando o quão idiota fui ao ter um pré-conceito sobre sua capacidade intelectual.

Na entrega dos trabalhos, tirei nota 5, de um total de 10. Entrei na faculdade de jornalismo achando que escrevia bem e tirei um cinco, podendo tirar menos, não fosse, talvez, a bondade do professor. Enfim, levei um tapa na cara daqueles bem secos que ficam ecoando durante algum tempo até que se caia na real. Paulo tirou 7,5. Quando peguei seu texto para ler, estava realmente muito bom. Não só estruturalmente, mas as ideias. As ideias estavam impecáveis. Foi a primeira vez que percebi seu talento.


Mais ao final do semestre, foi passado um trabalho à turma para ser realizado em grupo. A essa altura já conhecia Paulo, e junto com um outro amigo, o Daniel, que também é um símbolo de perseverança e humildade, fechamos o grupo.

Eu era um vagabundo nessa época. Quase não lia, e todo dia que chegava à aula os professores me banhavam com água fria: "jornalista que não lê está fadado ao fracasso". Mais ou menos isso. Isso me doía. Eu sabia que necessitava ler, indiscutivelmente, mais do que estava lendo, porém não conseguia sair daquela inércia. Simplesmente, não fazia nada para conseguir.

Os dias foram passando e pelo menos uma vez na semana eu falava com Daniel: "E ai cara. Po, o Paulo ta enrolando a gente. Ele quer fazer tudo sozinho..." Eu falava isso na maior cara de pau, pois não fazia nada para ajudar no trabalho. Apenas planejava, planejava e via os sonhos passando e, em algum lugar desse mundo distante, estava o trabalho feito. Não sei por quem.

Chegando perto da apresentação bateu o desespero. E agora, José? Tenho que ir atrás disso. Paulo estava faltando muito por problemas pessoais, como viria a me contar depois. E no msn eu não o achava nem que a pau.

Chegou o dia da apresentação e ele apareceu do nada, um tanto atrasado. Olhei para ele entrando na sala, olhei para Daniel, pensei: fudeu. Assim que se sentou, fomos os dois trouxas atrás de Paulo para saber o que tinha sido feito no trabalho. Com um ar de dever cumprido, exalando o cigarro que ele provavelmente deveria ter acabado de fumar, disse: "Calma, tá tudo aqui..."

Quando fomos à frente da sala apresentar o trabalho, só ele falou. Apresentou a ideia e botou pra rodar o vídeo (o nosso trabalho foi fazer um vídeo, já que Paulo tinha experiência com esses programas). Ao acabar, todos ficaram admirados. Era muito boa a idea para caber em simples 15 segundos, sei lá.

O vídeo tratava de um cara que estava dentro de um elevador subindo para o seu andar. Quando entrou rapaz loiro, bem aparentado, como o que já se encontrava no elevador. Ao entrar, o homem que já estava no elevador começa a ter preconceitos de que o loiro é metido, egoísta, esnobe, julgando apenas pela aparência. E nos pensamentos do loiro, apenas assuntos distantes, mas nada relacionado à pré-conceitos negativos em relação ao outro. Ao final, o loiro se despede do preconceituoso com um simples "Até mais", dado de boa vontade, olhando nos olhos e acenando. Não preciso dizer mais nada.

 Humildade é um detalhe dentre tantos outros que compõem o ser humano digno de respeito e confiança.