quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pré-conceito é de homem pré-histórico

Falar, defender pontos de vista, criticar, tentar se inteirar, mostrar que sabe, desejar acima de tudo e todos. Essas situações muitas vezes se põem à frente da humildade. Eu sei que é difícil tê-la, mas mais difícil ainda é pensar que existem seres que não almejam esse dom. Sim, eu considero isso como um dom, pois das mais de seis bilhões de pessoas no mundo, talvez apenas milhares tenham esse sentimento altruísta.

Às vezes eu tenho medo das primeiras impressões. Elas enganam cegamente, devido ser um olhar virgem do assunto que está se analisando. Para dar um exemplo, lembro do primeiro semestre do meu curso, em que fiz um trabalho em grupo com um cara chamado Paulo. Ele já tinha mais de trinta anos, apesar de não aparentar, e eu 19. Ao sair o resultado das primeiras atividades, me impressionei com a capacidade de escrita de Paulo. Ele não demonstrava que escrevia tão bem, que tinha ideias interessantes sobre diversos assuntos. Mas por que eu pensei isso? Talvez pelo seu estilo de se vestir, de se comunicar? Talvez. Mas na medida em que fui conhecendo esse homem, fui notando o quão idiota fui ao ter um pré-conceito sobre sua capacidade intelectual.

Na entrega dos trabalhos, tirei nota 5, de um total de 10. Entrei na faculdade de jornalismo achando que escrevia bem e tirei um cinco, podendo tirar menos, não fosse, talvez, a bondade do professor. Enfim, levei um tapa na cara daqueles bem secos que ficam ecoando durante algum tempo até que se caia na real. Paulo tirou 7,5. Quando peguei seu texto para ler, estava realmente muito bom. Não só estruturalmente, mas as ideias. As ideias estavam impecáveis. Foi a primeira vez que percebi seu talento.


Mais ao final do semestre, foi passado um trabalho à turma para ser realizado em grupo. A essa altura já conhecia Paulo, e junto com um outro amigo, o Daniel, que também é um símbolo de perseverança e humildade, fechamos o grupo.

Eu era um vagabundo nessa época. Quase não lia, e todo dia que chegava à aula os professores me banhavam com água fria: "jornalista que não lê está fadado ao fracasso". Mais ou menos isso. Isso me doía. Eu sabia que necessitava ler, indiscutivelmente, mais do que estava lendo, porém não conseguia sair daquela inércia. Simplesmente, não fazia nada para conseguir.

Os dias foram passando e pelo menos uma vez na semana eu falava com Daniel: "E ai cara. Po, o Paulo ta enrolando a gente. Ele quer fazer tudo sozinho..." Eu falava isso na maior cara de pau, pois não fazia nada para ajudar no trabalho. Apenas planejava, planejava e via os sonhos passando e, em algum lugar desse mundo distante, estava o trabalho feito. Não sei por quem.

Chegando perto da apresentação bateu o desespero. E agora, José? Tenho que ir atrás disso. Paulo estava faltando muito por problemas pessoais, como viria a me contar depois. E no msn eu não o achava nem que a pau.

Chegou o dia da apresentação e ele apareceu do nada, um tanto atrasado. Olhei para ele entrando na sala, olhei para Daniel, pensei: fudeu. Assim que se sentou, fomos os dois trouxas atrás de Paulo para saber o que tinha sido feito no trabalho. Com um ar de dever cumprido, exalando o cigarro que ele provavelmente deveria ter acabado de fumar, disse: "Calma, tá tudo aqui..."

Quando fomos à frente da sala apresentar o trabalho, só ele falou. Apresentou a ideia e botou pra rodar o vídeo (o nosso trabalho foi fazer um vídeo, já que Paulo tinha experiência com esses programas). Ao acabar, todos ficaram admirados. Era muito boa a idea para caber em simples 15 segundos, sei lá.

O vídeo tratava de um cara que estava dentro de um elevador subindo para o seu andar. Quando entrou rapaz loiro, bem aparentado, como o que já se encontrava no elevador. Ao entrar, o homem que já estava no elevador começa a ter preconceitos de que o loiro é metido, egoísta, esnobe, julgando apenas pela aparência. E nos pensamentos do loiro, apenas assuntos distantes, mas nada relacionado à pré-conceitos negativos em relação ao outro. Ao final, o loiro se despede do preconceituoso com um simples "Até mais", dado de boa vontade, olhando nos olhos e acenando. Não preciso dizer mais nada.

 Humildade é um detalhe dentre tantos outros que compõem o ser humano digno de respeito e confiança.

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